segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Nota 28...

" Ah!, é bem difícil encontrar este traço divino no meio desta vida que levamos, desta época tão satisfeita e instalada, tão burguesa, tão alheia ao espírito, em face desta arquitecturas, deste negócios, desta política, destes homens! Que outra coisa poderia eu ser senão lobo das estepes e eremita agreste no meio de um mundo de cujas ambições não partilho minimamente, e cujos prazeres nada me dizem! (...) E em contrapartida, aquilo que para mim é encanto, emoção, êxtase e elevação, isso o mundo só conhece, só procura e só aprecia, quando muito na poesia, porque na vida considera-o loucura. E, de facto, se o mundo tem razão, se essa música dos cafés, esses divertimentos de massas, essa gente americanizada satisfeita com tão pouco tem razão, então sou eu que estou fora da razão, então sou eu o louco, então sou eu realmente o lobo das estepes, como muitas vezes me intitulava a mim próprio, animal desgarrado num mundo que lhe é estranho e incompreensível, e que já não consegue dar com a sua terra, os seus ares, o seu alimento."
Hermann Hesse in "O Lobo das Estepes"
***
Penso que todos nós, em alguma ocasião da nossa vida, já nos sentimos como o lobo das estepes, desequadrados, descontentes... penso que seria bom que esse sentir surgisse com mais frequência... que se formassem verdadeiras alcateias... alcateias capazes de trazer uma mudança...

5 comentários:

MIG-L disse...

O problema da nossa alcateia, é a cobardia de se formarem grupos. Toda a gente anda revoltada quando se fecha no seu mundo mas depressa sorriem de um modo cínico perante a sociedade que os engole, absorve e lhes dá de comer. Rídiculo é cuspirem nesse mesmo prato nos momentos de reclusão, quando na verdade o lambem em frente de reais interesses. Sim, sou um lobo das estepes e talvez por isso, seja e me sinta incompreendido.
Um beijinho...

(...) disse...

Cobardia de se formarem grupos... não sei se será por aí... talvez também entre a acomodação, o medo de mudança, o receio de ser diferente, esforço de "remar contra a maré"...

Também sinto muito descontentamento. Acho muito curioso pessoas com quem falo, se queixarem todas do mesmo, mas ninguém avança com soluções...

Acho que já passei a fase de me sentir incompreendida... isso já não me afecta muito... felizmente...mas foi um fase muito má!

Beijo...

Pedro disse...

Será que ninguém percebe o livro?

Ridícula é a facilidade com que alguém diz: "sou um lobo das estepes", depois de vomitar tanta inanidade.

O analfabetismo é fodido.

(...) disse...

Pedro...pode ser que ninguém perceba o livro pelo menos à luz da sua (Pedro) vasta cultura e prodigiosa inteligència mas... também que importa isso? Pelo menos a mim o que importa é o que as pessoas sentem e o que expressam perante um excerto fora do contexto.

Porque havemos todos pensar e sentir da mesma forma ou contentarmo-nos com intrepretações únicas se somos todos diferentes?

Por muitas vezes que leia um mesmo livro acabo sempre por agarrar mensagens diferentes.

Será que não posso ter a minha forma de pensar e de ser?

Será que temos todos as mesmas oportunidades na vida? Será que temos todos de ser intelectuais?

Já várias vezes disse: nem sempre muito conhecimento tráz sabedoria.

Fodida é a inflexibilidade das pessoas e a pouca aceitação do seu semelhante.

Beijo...

(...) disse...

Pedro... duas coisas...

Não sabermos certas coisas é alguma vergonha?

E não vejo aqui analfabetismo nenhum...

Desafio-o a resolver um problema de Geometria Diferencial por exemplo... ou quem sabe a dar-me uma massagem shiatsu