terça-feira, 26 de agosto de 2008

Nota 13...

" Disse-me uma vez, falávamos nós das pseudo-atrocidades da Idade Média: "Estas atrocidades afinal não são atrocidades nenhumas. Um homem da Idade Média havia de abominar todo o estilo da nossa vida de hoje, havia de achá-lo pior que cruel: terrível e bárbaro! Cada época, cada cultura, cada costume e tradição tem o seu estilo, as suavidades e durezas, atrocidades e belezas que lhe assentam, aceita como naturais determinados sofrimentos, suporta pacientemente determinados males. O verdadeiro sofrimento, o autêntico inferno, esse só advém na vida humana onde e quando duas épocas, duas culturas e duas religiões se intersectam. Um homem da Antiguidade que tivesse tido de viver na Idade Média, teria asfixiado miseravelmente, como também asfixiaria um selvagem transportado à nossa civilização. Agora, há épocas em que toda a geração se encontra a tal ponto enfaixada entre duas épocas, entre dois estilos de vida, que perde toda a naturalidade, toda a moral, toda a segurança e inocência. É claro que nem todo sentem isto com a mesma intensidade."
Hermann Hesse in "O Lobo das Estepes"
*
Tudo tem o seu tempo . Para certas coisas não adianta muito olhar para trás ou para a frente. Nunca conseguiremos viver o passado ou o futuro na sua plenitude.

4 comentários:

MIG-L disse...

Muito bom post, sem dúvida.
Li-o várias vezes e concordo inteiramente com o trecho. Como sempre, também faço questão de opinar e acrescentar algo mais. Neste caso devo dizer que apesar de tudo, adoro viajar pelas eras, viver um pouco em cada uma das épocas e imaginar-me inserido em cada uma dessas realidades. Quanto ao futuro, talvez não o faça da mesma forma porque será algo mais dependente da nossa imaginação, devido a dados de que não dispomos. Já sobre o passado, conseguimos encontrar factos e artefactos que quase nos conseguem levar para lá. Sempre me imaginei a observar a expansão cristã do nosso país, a viajar a bordo de uma qualquer caravela, a sofrer com o terramoto que assolou Lisboa, a acordar com a instauração da república e a viver a liberdade de Abril. Fantasia é certo, mas cheia de convicção. Um beijo e obrigado pelo post.

(...) disse...

É sempre bom cultivarmos a nossa imaginação.

Penso no entanto que por muito conhecimento que tenhamos de certas épocas nunca será um sentimento próximo do real esse que vivemos com a nossa imaginação. Possivelmente acabamos só por sentir um lado um pouco romântico das coisas. Até quando voltamos um pouco ao nosso passado as coisas não se sentem com a mesma intensidade.

Porque não ir ao futuro também? Tentar imaginar algo que queiramos muito ver realizado? Isso ajuda a realizar!

Viver a liberdade de Abril? ;)Essa fez-me sorrir...

Beijo...

MIG-L disse...

Sim... Falo em liberdade e não em libertinagem. Ou... preferias um outro regime? Beijo...

(...) disse...

Não é por aí... a "liberdade de Abril" ainda a estás a viver... Se te referes a ter estado "presente" na altura da "revolução" isso faz-me sorrir porque... não assisti a nenhum dos outros eventos a que te referes mas a esse sim :)

Quanto a outro regime... hummm... não me apetece falar de política...

Beijo...